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voltarFusões: o que funcionários de empresas envolvidas podem esperar?
Fonte: InfoMoney
Karin Sato
Na última segunda-feira (3), foi anunciada a fusão do Itaú e do Unibanco, dando origem à maior instituição financeira do hemisfério sul e a 17ª do mundo pelo critério de valor de mercado. A megaoperação deixou uma dúvida no ar: o que as centenas de pessoas que trabalham nessas empresas podem esperar?
Em entrevista coletiva, Roberto Egydio Setúbal, que será o presidente-executivo da IU Participações, afirmou que agências não serão fechadas nem funcionários serão demitidos.
Segundo o consultor da DBM e professor do Ibmec-SP, Aloisio Buoro, a mensagem transmitida foi importante para amenizar o clima negativo na corporação. Mesmo assim, segundo ele, "há quem tenha certeza de que haverá demissão" e o resultado é um desempenho negativo gerado pela tensão.
"Em processos de mudanças e reestruturações, os profissionais envolvidos tendem a ficar mais sensíveis, mais atentos ao que é dito e ao que é feito. Tem gente que não vê problema algum, porque acredita que continuará na empresa. Outros tendem ao pessimismo. É papel da organização entender esse momento delicado pelo qual passam as pessoas. Neste momento, a atual crise financeira é um agravante", afirma.
Em fusões, desligamentos são inevitáveis
O headhunter e presidente da Junto Fast Recruitment, Ricardo Nogueira, acredita que as demissões, futuramente, serão inevitáveis, no caso do Itaú e do Unibanco, já que muitos cargos acabarão duplicados. Ele afirma que, quando o espanhol Santander comprou o Banco Real, no ano passado, demissões aconteceram. "Havia agências dos dois bancos instaladas uma ao lado da outra. Os cortes são inevitáveis nesses casos, são como placas tectônicas que se chocam".
O diretor da BPI no Brasil, Gilberto Guimarães, autor do livro "Tempos de grandes mudanças - reestruturando vidas e empresas", publicado pela Editora Senac, também acredita que fusões implicam cortes futuros de funcionários.
"Sem dúvida, fusões acarretam redundâncias (cargos duplicados), sobretudo no topo da pirâmide (altos escalões). No caso da fusão anunciada ontem, as demissões são mais prováveis na administração dos bancos do que nas agências", opina Guimarães.
Ele explica que irá demorar um certo tempo para a fusão se consolidar. "Provavelmente, as agências continuarão com as mesmas bandeiras (Unibanco e Itaú). A fusão da gestão deve demorar dois anos, já a das marcas, cerca de cinco anos, porque são agências com características diferentes e públicos-alvos diferentes", avalia ele.
"Quando o Itaú comprou o BankBoston, a fusão demorou um ano e o prédio que centralizava a administração do BankBoston foi colocado à venda. Mas a operação foi diferente, pois talvez o Unibanco não seja uma marca para se perder", acrescenta o presidente da BPI no Brasil.
O sentimento desses profissionais
Para Buoro, da DBM, os funcionários do Itaú e do Unibanco devem olhar esta operação como uma oportunidade. "É muito cedo para falar em demissões. O que sabemos é que o presidente do novo conglomerado assegurou que não é o caso. Além disso, ele já anunciou a ambição de, em cinco anos, atingir o patamar de player global. Para isso, a empresa precisará ser maior do que é hoje e ter mais funcionários do que tem hoje".
Para ele, o pessimismo e a preocupação dos profissionais envolvidos em processos de fusão são completamente compreensíveis, mas a postura correta a adotar é a de protagonista.
"No caso do Itaú e do Unibanco, agora que os profissionais sabem da ambição do grupo de atuar em larga escala fora do país, eles devem fazer seu trabalho bem feito e ainda melhorar. Olhe para o futuro, enxergue uma oportunidade e vire a página", aconselha Buoro.
Na opinião de Guimarães, o risco de demissão no Itaú e no Unibanco já existia, mas não por conta da fusão, e, sim, da crise financeira mundial. "Seria mais preocupante se a fusão não tivesse ocorrido, porque o crescimento das empresas brasileiras é alavancado principalmente com capital estrangeiro. Como o mundo está em crise, é natural uma redução na oferta de crédito".
Quem deve se preocupar
Na opinião de Nogueira, o risco de demissões em processos de fusão é real. Mas devem se preocupar aqueles profissionais que somente se preocupavam em cumprir horário. "Aqueles que, em suas avaliações de desempenho, ficam dentro do esperado ou acima não precisam se preocupar, porque, na gestão da mudança, a empresa mapeia os funcionários que estão preparados para tocar o calcanhar de Aquiles da organização".
O problema ocorre quando o profissional é talentoso e preparado, mas seu gestor oculta esse talento. "Se o superior direto não tem uma visão estratégica do negócio e tem medo que alguém melhor tome seu lugar - caso do típico chefe centralizador -, o funcionário deve se preocupar com os cortes. A solução pode ser tentar migrar de área. Caso conheça o gestor de outro setor da empresa, converse com ele, pergunte se pode participar de uma reunião, mas não fale mal do seu chefe", aconselha.
No caso dos gestores, correm menos riscos aqueles que oferecem chances de crescimento aos seus funcionários, por meio de uma liderança construtiva. "São mais valorizadas as pessoas descentralizadoras, que sabem liderar e têm consciência corporativa. Estas não têm com o que se preocupar".
Guimarães, da BPI, lembra que não é o fim do mundo. Isso porque, mesmo que pessoas venham a ser demitidas, as empresas hoje estão muito mais preparadas para processos de mudanças, e quem é desligado recebe "um belo bônus e ajuda na recolocação".
Mais fusões vêm por aí
O fato é que este é apenas o início de uma temporada de fusões. Dizem que o Bradesco irá reagir. Dizem que os bancos brasileiros precisam ser players internacionais para não desaparecerem, o que é possível por meio de fusões e aquisições. O certo é que os profissionais precisam estar preparados para esses movimentos.
"Faça um dossiê do que já fez, dos resultados alcançados. Tenha algo na manga, caso o Recursos Humanos te chame para conversar. Além disso, faça seu melhor sempre, o tempo todo, seja em uma apresentação, seja na realização de um projeto", finaliza Nogueira.